Neste final de semana, a “Marcha da
Maconha” tomou as ruas
do Brasil com o tema ‘Basta de guerra - por outra política de drogas’. A Marcha ocorreu em São Paulo, Curitiba,
Manaus, Salvador, Aracaju, Recife e Natal, levando milhares de usuários e
simpatizantes aos holofotes da mídia. Anteriormente, o evento já tinha
acontecido em cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Niterói, Fortaleza,
entre outras cidades.
Não que eles sejam a favor a liberação. Esse termo é
errôneo, segundo especialistas. O correto seria debater a regulamentação, a
legalização da erva, já que, com isso, o governo teria total controle e
deixaria os traficantes à mercê dos viciados mais corajosos – aqueles que,
ainda com a maconha legalizada, comprariam nas bocas-de-fumo, que seria uma
pequena parcela, em consideração ao que se acontece hoje, quando o tráfico tem
total domínio sobre a produção e distribuição da maconha.
O intuito dessas marchas e passeatas é o seguinte: a guerra
contra o tráfico fracassou. Um exemplo disso é a ‘War on Drugs’ (em tradução
livre, guerra contra as drogas) dos EUA, que desde 1971 declarou que nenhum
ilícito poderia ser consumido naquele país.
Não deu certo, pois 40 anos mais tarde, os efeitos da
violência são piores do que os da droga. Para muito teóricos é hora de paz,
finalmente, já que nesse tempo todo, nunca se conseguiu diminuir a demanda e a
oferta.
Caminhando junto
A História da Humanidade se confunde com o percurso das
drogas ao longo dos séculos.
Desde que o homem se entende por gente, tenta de alguma
forma ‘fugir’ da realidade, seja consumindo álcool ou alguma outra substância
psicotrópica.
Guerras foram deflagradas por reis bêbados e muros
derrubados com o ácido no sangue, o tão popular LCD no final dos anos 1960.
Mas o que propõe o documentário ‘estrelando’ o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, o aclamado
“Quebrando o Tabu”, lançado no ano
passado, não é precisamente que todos tenham o direito a consumir drogas.
O que aborda o longa-metragem é justamente a guerra falida
contra o tráfico. Foi feito de tudo um pouco – repressão e policiamento
ostensivo, apreendendo inclusive apenas consumidores de entorpecentes – e nada
tem realmente surtido efeito.
E por trás do narcotráfico, o que existe? Necessariamente, o
crime organizado e a corrupção.
Um exemplo disso foi a Lei Seca dos EUA, nos anos 1920, com
o gangster Al Capone comandando mais e mais casas de jogos de azar, prostíbulos
e a venda proibida de álcool. Nenhuma medida de fato funcionou e o tráfico só
acendeu a discussão de que quando o consumidor quer, ele tem – legal ou
ilegalmente.
Fernando Henrique Cardoso, que também é sociólogo e está à
beira de seus 81 anos, afirma que agora é necessária a regulamentação da
maconha, que tem, segundo estudos médicos, menos risco de vício, sendo também
menos prejudicial que o álcool para o corpo.
“Há um mito de que quem fuma maconha vai passar para drogas
mais pesadas. Isso acontece porque o usuário vai até a boca-de-fumo e o mesmo
traficante que vende a erva é aquele que oferece a cocaína e o crack, por
exemplo. A maconha deveria ser regulada, como o álcool e o cigarro”, diz o
ex-presidente, o qual afirmou que nunca pôs uma seda na boca.
Benefícios
A cannabis sativa, nome científico da erva que é consumida
desde o século III a.C., tem seus benefícios. Conforme estudos – ela inclusive
é usada para fins medicinais –, a maconha ajuda quem tem esclerose mútipla,
câimbra, espasmos dolorosos e tiques nervosos.
E ainda aumenta o apetite e o bem-estar de quem tem qualquer
tipo de câncer. Em 16 estados dos EUA, o uso medicinal dessa “droga” já foi
legalizada.
Pacientes
O intuito-mor da regulamentação da maconha é tratar quem é
consumidor como paciente e não como um criminoso. Isso já pode ser constatado
em pelo menos 14 países da Europa – por lá, Portugal, Espanha e República
Tcheca, por exemplo, já descriminalizaram a posse da maconha para uso pessoal.
Por aqui, passos importantes foram dados, bem como no caso
da Argentina e do México.
Cerca de 50% de jovens universitários já consumiram drogas
Uma pesquisa feita em 2010 apontou que quase a metade dos
universitários do Brasil já teve acesso a drogas. Os dados de que 48,7% deles
já usaram algum ilícito são do 1º Levantamento Nacional sobre o
Uso de Álcool,
Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras,
divulgados pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), em
parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Segundo o estudo, quando entram na universidade, os jovens
estão mais vulneráveis e suscetíveis a 'novas experiências'. A pressão grupo ou
mesmo a autonomia conquistada pelos jovens abre brechas e os deixam mais
suscetíveis ao uso da droga.
O levantamento, feito com mais de 18 mil universitários de
mais de 100 instituições de ensino, ainda revelou que o consumo de álcool e
drogas é mais frequente nos universitários do que na população em geral – entre
as drogas mais 'provadas' por eles estão a maconha, a cocaína, as anfetaminas,
os opiáceos e o êxtase.