Um grupo de cientistas do Centro de Estudo da Poluição
Atmosférica, de Roma, chegou a uma conclusão sensacional – o ar das grandes
cidades italianas contém não somente gás carbônico e partículas sólidas mas
também vestígios de substâncias narcóticas – cocaína e maconha. A correspondente
da Voz da Rússia Marina Tantuchian pediu ao professor Ângelo Cecinato,
dirigente do grupo de pesquisadores, que revele os pormenores do estudo.
Professor Cencinato, por que razão resolveu levar a cabo uma
pesquisa tão fora do comum?
Não tinha em vista a busca especial de drogas na atmosfera.
Mas, ao estudar a poluição do meio ambiente em diversas cidades, em particular,
em Roma, descobri pela primeira vez no ar vestígios de cocaína. A curiosidade
fez que aprofundasse neste problema mediante a ampliação da geografia e
desenvolvimento de instrumentos analíticos a fim de continuar a revelar na
atmosfera de diversos países do mundo não somente vestígios de cocaína, mas
também de cannabinoides, de nicotina e de cafeína.
A nossa análise foi efetuada em condições normais de
laboratório. A primeira fase incluía a recolha de partículas de poeira
atmosférica, a segunda, a realização da análise química com ajuda de um
conjunto simples de tecnologias e instrumentos que se utilizam praticamente em
todos os laboratórios do mundo especializados em semelhantes pesquisas na
esfera de poluição do meio ambiente.
Quais os fatores que determinam a concentração de
substâncias narcóticas na atmosfera?
Estou certo de que o fator principal e determinante é o
consumo de drogas, - tanto as proibidas como as legais. A resposta é uma só – o
volume de drogas no ar que nós respiramos depende diretamente do consumo destas
substâncias e da densidade da população que vive num certo território. Na
Itália temos feito as análises em diversas cidades. Constatamos que a
concentração mais alta de substâncias narcóticas se verifica nas regiões que
têm fama de maiores consumidores de drogas. Quanto à Itália, o norte mais
abastado lidera neste plano. No entanto, a concentração de drogas é muito alta
também em Roma e em Nápoles. Quanto a outros países do mundo, posso afirmar a
partir da base de dados à minha disposição, - embora não tivesse estudado todos
os países do mundo, - que a América Latina, por exemplo, ultrapassa a Itália
quanto ao teor destas substâncias na atmosfera. Na Espanha a situação é análoga
à nossa.
Que influência exerce a existência destas substâncias no ar
sobre a saúde humana?
Não fiz pesquisas especiais neste setor. Normalmente, a
concentração destas substâncias não é bastante grande a ponto de causar lesões
sensíveis mas seria também incorreto negar a existência de um efeito negativo.
Por exemplo, até hoje ninguém estudou a concentração de nicotina no ar, embora
o seu teor exerça, certamente, um certo efeito tóxico. Além do aspeto sanitário
do problema, creio que o maior benefício que o nosso trabalho pode produzir é
revelar as regiões com mais alto nível de abuso de drogas.
O professor Cecinato ressaltou à parte a disposição de
colaborar com colegas dos outros países, incluindo a Rússia. Espera que a sua
ajuda lhe permita estudar a situação também na Ásia e na América Latina, que
estão, por enquanto, fora da esfera das suas pesquisas.
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